1) Vivemos uma ditadura do propósito e missão de vida?

Gostaria de começar dizendo que você não tem obrigação de descobrir qual a sua missão, visão, valores e propósito para viver. Falo isso porque parece que, assim como em relação à ditadura da felicidade, o propósito e a missão têm sido recentemente difundidos como coisas essenciais e sem as quais não podemos viver em hipótese alguma. Acho isso simplista demais e acaba por nos gerar estresse desnecessário.

Existem pessoas que passam uma vida inteira sem descobri-los e nem por isso deixam de viver. Se bem que, segundo Oscar Wilde, viver é a coisa mais rara do mundo e a maioria das pessoas apenas existe.

Eu honestamente acredito que, a partir do momento em que você se dá conta e busca descobrir o seu propósito e missão, você já não apenas existirá, mas passará a viver com certa plenitude, para pegar carona nas palavras de Wilde. E isso basicamente é feito por um processo de autoconhecimento, que pode fazer uso de terapia, sessões de coaching, assessments, auto observação etc.

2) Qual a diferença entre valores, visão, missão e propósito?

Para responder a essa pergunta, irei usar uma ilustração que eu vi no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=f5L8dNw5PF0. Trata-se de um vídeo do canal AuthenticEducation e que se chama “The Best Analogy For Your Vision, Mission & Purpose”.

Imagine um caminho que leva ao destino final da sua vida. Este destino final é a visão. O caminho que te leva é a missão. E o propósito é a razão pela qual você está seguindo esse caminho e não algum outro. Os valores são a bússola que te guia nesse caminho.

De uma outra forma, o propósito é o WHY (Por que?), a missão é o HOW (Como?) e a visão é o WHERE (Onde você quer chegar?).

Quero mencionar também um vídeo que assisti no TED, do Simon Sinek: How great leaders inspire action (Como grandes líderes inspiram ação), também conhecido como Start with why (Comece com o porquê) (https://www.youtube.com/watch?v=qp0HIF3SfI4). Nele, Sinek comenta que os grandes líderes e organizações invertem a ordem normalmente usada de explicar o que eles fazem (WHAT), como fazem (HOW) e porque o fazem (WHY).

Líderes e organizações de sucesso iniciam seus discursos com o porquê, isto é, a razão de fazerem o que fazem. Sinek cita o exemplo da Apple, que diferentemente dos seus concorrentes, não comunica fazer computadores (WHAT) que servem para as pessoas usarem (HOW) e esta é a razão da sua existência.

Ao invés disso, a Apple desde cedo alardeava que estava ao lado dos inconformados, daqueles que pensam diferente, que não aceitam o status quo e que, por isso, criava computadores com design e experiência ímpar, o que subverteu totalmente a ordem das coisas. Daí o conceito de começar com o porquê (Start with Why).

Mais adiante, Sinek comenta sobre o célebre discurso de Martin Luther King Jr., onde ele reuniu milhares e milhares de pessoas (das quais 25% brancas) para falar no que ele acreditava para a sociedade norte americana (WHY). Aliás, falando em Martin Luther King Jr., há uma famosa frase atribuída a ele e que diz: “quem não tem uma causa pela qual morrer, não tem motivo para viver”.

3) Quanto tempo leva para descobrir?

Desvendar o propósito, a visão e a missão é uma tarefa rápida para uns e demorada para outros. Quantos de nós não conhecemos aqueles(as) que desde cedo sacaram quais eram seus talentos e o que nasceram para fazer? Por outro lado, qual de nós também não conhece pessoas que, apesar da idade já madura, ainda não se encontraram? O resumo da ópera é que cada um tem um tempo. Este é mais um exemplo de que não é correto nos compararmos aos outros, pois os contextos e histórias de vida são muito distintos. Mas eu mesmo sei como isso é complicado e, ainda muitas vezes, eu preciso me policiar para não cair na armadilha da comparação. Aceitar, portanto, que você pode se deparar com seu propósito e missão hoje ainda, ou mesmo que pode levar alguns anos para isso se consolidar é chave para não causar frustração.

Acredito que o lado bacana de toda esse falatório sobre missão e propósito é o fato das pessoas estarem se preocupando com algo que, até pouco tempo atrás, era muito incomum e fora das rodinhas de bate papo. Talvez mérito das novas gerações, muito questionadoras e inconformadas. Talvez mérito das redes sociais e da onda de transparência e visibilidade que vem varrendo o mundo.

4) Qual a vantagem em descobrir os meus?

Se por um lado, não há problema em não saber sobre o próprio propósito e missão, por outro lado, tampouco há problema em se lançar na descoberta deles. Muito pelo contrário. Acredito que, ao se ter clareza sobre eles, o indivíduo se permitirá ter maior congruência e muitos dos seus conflitos internos deixarão de existir (digo muitos, pois não consigo acreditar em ser humano sem dilemas e sem incongruências). Nós podemos ter algumas crenças que limitam o nosso crescimento e sucesso. Ao nos darmos conta de onde queremos chegar (visão), como o faremos (missão) e qual a razão de querermos aquilo (propósito), nós começamos a abrir caminho para que o nosso ser se alinhe com o nosso plano, trocando aquelas crenças limitantes por outras mais positivas e estimulantes, nos dando foco, clareza e congruência interna. De fato, clareza é poder!

Com o maior foco e clareza de direção, conseguiremos liberar o potencial latente em nós que fará o diferencial na vida das pessoas. Compartilho com vocês algo em que acredito: que a nossa missão passa, de alguma forma, por ajudar ou servir as pessoas. Seja um professor que contribui para a educação de crianças, jovens ou adultos, seja um empresário que dá empregos, seja um vendedor que ajuda a economia a girar e os seus colegas a ter um emprego, de alguma maneira, aquele talento será utilizado para servir a sociedade e as pessoas.

5) Qual a relação das pessoas com a minha missão?

Interessante notar que diversos livros de auto ajuda utilizam esse pensamento para sugerir que devemos ajudar as pessoas para ter uma vida próspera financeiramente. O que não deixa de ser verdade, mas talvez evitando enfatizar tanto o lado econômico. Afinal, dinheiro não é um fim, mas um meio. E, sem dúvida, dinheiro é uma consequência. E uma consequência do valor que você gera para as pessoas. Note que valor não é algo sujeito à sua avaliação, mas sim à avaliação do outro. Nesse sentido, pouco importa o que eu acho daquilo que eu faço, mas apenas o que o outro acha daquilo que eu faço e entrego.

Perceba que o mundo está carente de pessoas com uma causa a defender. Geralmente, os indivíduos com um propósito e missão claros têm uma espécie de ímã, aglutinando as pessoas à sua volta, pois muitos estão a procura de algo em que acreditar. Assim, um verdadeiro líder é aquele que inspira seu entorno (e não somente aqueles a quem lidera) a seguir em direção a uma determinada visão, segundo um propósito e uma missão que engajam e motivam. O interessante é que esta inspiração também fará com que alguns descubram outras missões por que lutar e, assim, cria-se um ciclo virtuoso.

Aristóteles também falou que vocação é quando os seus talentos encontram as necessidades do mundo. Mais uma vez, estamos falando de dois círculos com região de intersecção. Assim, não basta apenas olharmos para o nosso umbigo e esquecermos que a nossa missão está de alguma maneira atrelada com o próximo e que isso é que pode nos trazer satisfação e plenitude de vida.

6) Temos uma só missão ou podemos ter algumas?

Pois é, interessante refletir sobre essa pergunta, não? Na realidade, penso que missão é plural e não singular, isto é, podemos ter algumas missões. Isso porque, como a ilustração do caminho para uma visão que falamos mais acima, a missão é justamente o caminho que nos leva à visão e, assim, podemos usar de alguns caminhos diferentes para chegar ao mesmo lugar.

Isso não significa dizer que qualquer caminho é bom ou que tanto faz o caminho tomado, desde que o lugar de chegada seja aquele pretendido. A escolha do caminho vai depender do seu propósito (WHY) e dos seus valores. E lembre-se de que feliz é aquele(a) que curte a jornada. Portanto, invista seu tempo em descobrir qual caminho você quer seguir.