Vários amigos e conhecidos me perguntam se eu recomendo que eles comecem a sua jornada de autoconhecimento fazendo um curso de programação neurolinguística (PNL), coaching ou algum outro. Invariavelmente, comento que tanto o coaching, como a PNL, como assessments (DISC, MBTi, OPQ32 etc) ou mesmo a leitura são excelentes nesse sentido, mas há uma ferramenta que é extremamente poderosa para isso: eneagrama.

Penso que o eneagrama seja mais efetivo na busca de alguém por autoconhecimento, pois é uma ferramenta relativamente rápida para aplicação, de simples entendimento e de impacto muito aprofundado.

Fora isso, o eneagrama não é apenas uma tremenda ferramenta de autoconhecimento. Ela é também genial para conhecimento do outro e de como o outro pensa. Isso traz um entendimento das coisas à sua volta que não tem comparação, ao mesmo tempo em que desenvolvemos maior compaixão com o próximo.

Mas vamos trilhar um pouquinho sobre as origens do eneagrama. Há algumas divergências quanto à idade e origens dessa ferramenta. Algumas correntes dizem que ela tem 5000 anos; outras dizem que é mais recente e se trata de um estudo da personalidade de origem sufi (uma espécie de corrente contemplativa do islã). O que é mais consensual é que a existência do eneagrama nos dias de hoje se deve a um filósofo armênio chamado George Ivanovich Gurdjieff.

Gurdjieff entrou em contato com a representação do eneagrama durante uma viagem ao oriente e passou a utilizá-la em alguns de seus estudos.

Anos depois, Oscar Ichazo, filósofo sul americano, entusiasmado com a ideia de recuperar conhecimentos perdidos, se deparou com o eneagrama e começou a pesquisar e a trabalhar alguns elementos. Na década de 50, ele associou as nove pontas da representação gráfica a tributos da natureza humana, segundo a tradição cristã.

Já na década de 70, o médico psiquiatra Claudio Naranjo conheceu o eneagrama e iniciou algumas correlações com o seu conhecimento psiquiátrico, o que ajudou a desenvolver ainda mais o conceito e a montar um sistema de tipologias.

Como você pode notar, o que hoje é conhecido como eneagrama foi algo construído por várias mãos ao longo de diversos anos e é reconhecido como ferramenta de excelência em autoconhecimento por várias empresas ao redor do mundo. Com efeito, há workshops e treinamentos em eneagrama por algumas escolas e profissionais de gabarito aqui mesmo no Brasil.

Você pode conferir a representação gráfica do eneagrama acima. Perceba que é constituída de um círculo, um triângulo (unindo os números 3, 6 e 9) e um hexágono irregular (unindo os números 1, 4, 2, 8, 5, 7 e 1).

Há bastante discussão se esta representação gráfica guarda segredos místicos. Não vou entrar nessa discussão, mas quero apenas mencionar resumidamente o que é falado a respeito. Segundo linha mais esotérica, o círculo significa unidade. O triângulo ilustra a “lei do três” e o hexágono irregular simboliza a “lei do sete”, pois os números que ele une (1, 4, 2, 8, 5, 7 e 1) são 7 números e são basicamente o resultado da divisão do algarismo 1 pelo 7 (você pode conferir pegando uma calculadora e dividindo 1 por 7).

Independente dessa dúvida acerca de uma linha mais esotérica ou mística, posso te afirmar que lido com a ferramenta há alguns bons anos e, mesmo eu não sendo esotérico ou acreditar em misticismo, tenho me espantado em como o eneagrama funciona e nos ajuda a entender a nós mesmos e ao próximo.

Mas, agora, vamos resumir um pouco sobre os 9 tipos de personalidade que o eneagrama nos fornece. Destaco apenas que isso é a ponta do iceberg, pois se eu fosse explicar melhor o que é a ferramenta, precisaria de um curso ou workshop para fazê-lo adequadamente. Outra coisa é que, na literatura a respeito ou mesmo na internet, você vai encontrar descrições mais pejorativas sobre cada um dos tipos abaixo listados. Preferi adotar terminologia o mais positiva possível, até porque não acho legal criarmos rótulos negativos para as pessoas.

Tipo 1: perfeccionista, reformador, idealista

Desejo básico: ser correto, bondade, integridade, equilíbrio

Tentação: crítica voraz (consigo mesmo e com os outros)

Virtude: serenidade

Vício/Paixão: ira

Ideia sagrada: perfeição

Compulsão: perfeccionismo e crítica

Estresse: tipo 4

Segurança: tipo 7

Exemplos: Platão, Gandhi, George Harrison, Al Gore, Celine Dion, Jane Fonda, João Paulo II

Tipo 2: prestativo, ajudador, altruísta

Desejo básico: ser amado, ser bem quisto

Tentação: negar as suas próprias necessidades (prefere as necessidades das outras pessoas)

Virtude: humildade

Vício/Paixão: orgulho

Ideia sagrada: liberdade, vontade

Compulsão: auto engano

Estresse: tipo 8

Segurança: tipo 4

Exemplos: Madre Teresa de Calcutá, Desmond Tutu, Eleanor Roosevelt, Luciano Pavarotti

Tipo 3: bem-sucedido, realizador, competitivo

Desejo básico: se sentir valorizado e admirado

Tentação: esforçar-se por ser o melhor sempre

Virtude: autenticidade

Vício/Paixão: ilusão, engano, vaidade

Ideia sagrada: harmonia

Compulsão: mentira

Estresse: tipo 9

Segurança: tipo 6

Exemplos: Bill Clinton, Elvis Presley, John Travolta, Paul McCartney, Sharon Stone, Tony Robbins, Oprah Winfrey, Tom Cruise, Madonna, Michael Jordan

Tipo 4: individualista, romântico, especial

Desejo básico: se sentir único, diferenciado, especial

Tentação: abusar da imaginação sobre si mesmo

Virtude: equanimidade

Vício/Paixão: inveja

Ideia sagrada: origem

Compulsão: insatisfação, drama

Estresse: tipo 2

Segurança: tipo 1

Exemplos: Jackie Onassis, Bob Dylan, Alanis Morrisette, Johnny Depp, James Dean, Ingmar Bergman

Tipo 5: observador, pensador, investigador

Desejo básico: conhecimento, sabedoria, maestria

Tentação: substituir experiência concreta por conceitos

Virtude: desapegados

Vício/Paixão: avareza, egoísmo

Ideia sagrada: conhecimento, transparência

Compulsão: isolamento

Estresse: tipo 7

Segurança: tipo 8

Exemplos: Stephen King, Kurt Cobain, Vincent Van Gogh, Stephen Hawking, Bill Gates, Charles Darwin

Tipo 6: cético, cuidadoso, leal

Desejo básico: ter apoio, segurança e direção

Tentação: indecisão, dúvida, busca por segurança

Virtude: lealdade, dedicação

Vício/Paixão: medo

Ideia sagrada: fé, força

Compulsão: dúvida, medo

Estresse: tipo 3

Segurança: tipo 9

Exemplos: Robert Kennedy, Bruce Springsteen, Michelle Pfeiffer, Mel Gibson, Richard Nixon, Princesa Diana, Tom Hanks, Julia Roberts

Tipo 7: sonhador, impulsivo, otimista

Desejo básico: ficar satisfeito e contente

Tentação: achar que a realização está em outro lugar

Virtude: sobriedade

Vício/Paixão: gula

Ideia sagrada: sabedoria, planejamento

Compulsão: charlatanismo

Estresse: tipo 1

Segurança: tipo 5

Exemplos: Robin Williams, Steven Spielberg, Mozart, Jim Carrey, Benjamin Franklin, Jack Nicholson, John Kennedy

Tipo 8: líder, confrontador, desafiador

Desejo básico: auto proteção

Tentação: se achar auto suficiente

Virtude: inocência

Vício/Paixão: luxúria

Ideia sagrada: a verdade

Compulsão: vingança

Estresse: tipo 5

Segurança: tipo 2

Exemplos: Franklin D. Roosevelt, Mikhail Gorbachev, Frank Sinatra, Courtney Love, Susan Sarandon, Martin Luther King Jr., Sean Connery, Glenn Close

Tipo 9: pacifista

Desejo básico: paz de espírito, paz mental

Tentação: evitar conflitos

Virtude: diplomacia

Vício/Paixão: preguiça

Ideia sagrada: amor, união

Compulsão: apatia

Estresse: tipo 6

Segurança: tipo 3

Exemplos: Ronald Reagan, Gerald Ford, Kevin Costner, Sophia Loren, Whoopi Goldberg, Ringo Starr, Ingrid Bergman, Abraham Lincoln, Carl Jung, Audrey Hepburn, Walt Disney

Observe que os vícios ou paixões dos 9 tipos incluem os chamados “7 pecados capitais”.

Outro detalhe importante de mencionar é que não existe um tipo melhor ou tipo pior do que o outro. Todos têm seus pontos positivos e negativos. O que existe é um nível de maturidade diferente para indivíduos com o mesmo tipo de eneagrama. Por exemplo, conheço pessoas do tipo 4 maduras e também conheço pessoas do mesmo tipo que, apesar da idade, parecem verdadeiros adolescentes.

De fato, dois estudiosos famosos do eneagrama chamados Don Riso e Russ Hudson estruturaram 9 níveis de desenvolvimento. Ou seja, cada tipo do eneagrama possui um dos 9 níveis de desenvolvimento, que, em outras palavras, querem se referir à maturidade do indivíduo (3 níveis saudáveis, 3 níveis intermediários e 3 níveis não saudáveis).

Não é porque um tipo 9, que tem como paixão a preguiça, vai ficar refém dela e deixar a sua vida se afundar na falta de ação. Tipos 9 mais maduros e evoluídos vão se dar conta dessa dificuldade e trabalhar para vencer o vício. O mesmo acontece com os outros 8 tipos.

Cada tipo do eneagrama também possui algo chamado “asas”. Não é Red Bull. Trata-se dos números imediatamente antes e depois. Por exemplo, o tipo 1 pode ter asa no tipo 9 ou no tipo 2. Da mesma maneira, um tipo 5 pode ter asa no tipo 4 ou no tipo 6. Com isso, nós começamos a entender toda a riqueza e as interligações que existem entre as diferentes personalidades e tipos do eneagrama. Isso vai ficar ainda mais claro daqui a pouco.

Você provavelmente também reparou que cada descrição feita acima tinha, ao final, um tipo para “estresse” e outro tipo para “segurança”. Isso se deve ao fato de cada tipo do eneagrama apresentar comportamentos de um outro, seja nas situações de tranquilidade (ou segurança), seja nas situações sob estresse.

Dessa forma, o tipo 8, quando em segurança, pode mostrar comportamentos do tipo 5 e, quando em estresse, se comportará como um tipo 2. Estas são as famosas “setas” do eneagrama e podem ser visualizadas na representação gráfica mostrada acima. Veja que, de fato, o tipo 8 está interligado, tanto com o tipo 2 como com o tipo 5. Igualmente para os outros tipos, temos a mesma forma de analisar. A diferença é que os tipos 3, 6 e 9 estão interligados entre si. E os tipos, 1, 2, 4, 5, 7 e 8 estão conectados de alguma forma.

Para complementar essa intricada rede de correlações dentro do eneagrama, há ainda os subtipos do eneagrama. Basicamente, são 3 subtipos: sexual (ou intimidade), social e auto preservação. Cada um de nós tem estes subtipos, só que em ordem de prioridade diferente.

Como você pode ver, é muito desafiador falar dessa ferramenta tão poderosa em poucas palavras. O melhor mesmo é que você busque mais informações na internet (Google e YouTube), faça testes gratuitos disponíveis na rede, se inscreva em um workshop das diversas escolas no Brasil e, depois disso, compre algum livro para complementar o conhecimento.

Abaixo, segue o link de um teste gratuito bem simples, mas que deverá te ajudar a identificar a qual tipo você pertence:

http://www.fredport.com/TESTENEA1/tstenea2.htm

A experiência que eu tenho tido com o eneagrama me permitiu melhorar bastante o relacionamento com a minha esposa (que também gosta muito da sabedoria do eneagrama), com os meus colegas de trabalho, com a minha família e com amigos. Fora isso, um enorme ganho que nós temos é em conhecer mais a nós mesmos, a entender o nosso modelo mental e a evoluir na nossa maturidade como seres humanos que somos, cheios de desafios, problemas, mas também tão cheios de oportunidades e soluções.