Em 2011, a irmã de Mark Zuckerberg, Randi, postou em seu Twitter a seguinte frase: “O dilema do empreendedor: manter amizades; construir uma grande empresa; passar tempo com a família; ficar fit; ter um bom sono. Escolha somente três”.
Randi é muito mais do que simplesmente a irmã do Mark Zuckerberg. Ela é a fundadora e CEO da Zuckerberg Media, autora de livro best seller no New York Times, apresentadora da rádio SiriusXM, além de mãe de 2 crianças.
Em entrevistas posteriores que ela deu a grandes sites norte americanos, Randi compartilhou que ela não acredita em uma vida equilibrada. Ela não acreditava em alguém conseguir gerenciar as cinco coisas (amizades, carreira, família, atividade física e sono) todos os dias. Em sua opinião, a gente consegue fazer bem até 3 dessas coisas por dia. Não mais do que isso.
Randi concedeu uma entrevista ao site Influencive (https://www.influencive.com/2017-balance-friends-family-fitness-sleep-work-according-randi-zuckerberg/), onde falou o seguinte: “Este tem sido o meu mantra há um bom tempo. E o maravilhoso é que, cada dia, você escolhe 3 coisas diferentes. E é assim que você gerencia o caos que acaba vindo para aqueles que empreendem. Ao invés de colocar pressão em nós mesmos para sermos equilibrados 24 horas por dia, eu acho que a alta expectativa é o que leva muitos de nós ao fracasso. Você nunca vai conseguir equilibrar tudo em um único dia. Assim, o que eu gosto de fazer é dar a mim mesma a permissão de ser um pouco assimétrica – em um dia eu posso estar realmente focada em minha carreira, no dia seguinte eu posso estar mais dedicada a ser mãe, assim como no outro dia eu posso estar cheia de reuniões com as empresas que eu quero investir, etc. Você não deveria se colocar pressão para fazer todas essas coisas em um só dia”.
Assim, nota-se que Randi Zuckerberg não nega a possibilidade de termos sucesso nas 5 áreas de vida que ela mencionou sem seu post no Twitter. O que ela afirma é que precisamos focar, diariamente, em 3 assuntos, mas que esses temas podem mudar com o tempo. Ela defende, portanto, que tenhamos poucas prioridades para o dia, ao invés de eleger uma variedade de coisas e fazermos muito pouco de cada uma delas.
Em outra parte da entrevista para o site Influencive, Randi menciona qual é a sua filosofia no que se refere ao uso de tecnologia: “em algum ponto, eu notei que havia um punhado de aplicativos que eu tinha em meu celular que eu, quase sempre, despretensiosamente abria quando tinha algum tempo livre no dia. Eu chamo isso de ‘junk food’. Eu poderia estar em uma fila no Starbucks, dentro de um táxi, esperando pelo metrô, e nem me daria conta do meu hábito de entrar naqueles aplicativos de celular. Desde então, eu tenho buscado estar mais atenta ao meu relacionamento com a tecnologia, para que eu possa ter mais foco em minha vida”.
Ainda sobre tecnologia, Randi comentou sobre o fato de que, antes, ela estava quase 100% disponível no celular ou email. Há um certo tempo, ela colocou algumas barreiras e impediu que as pessoas conseguissem acessá-la tão facilmente. “Ao estar sempre disponível, nós permitimos que uma quantidade significativa de distração entre em nossas vidas, e isso dificulta a definição de prioridades que nós precisamos criar para nós mesmos”, ela afirma.
Como Randi Zuckerberg sugere, nós precisamos começar a criar essas barreiras, já que ninguém vai respeitar o nosso tempo se nós mesmos não o respeitarmos.
É verdade que há algumas críticas à frase que ensejou este artigo. Há empreendedores que dizem ter sucesso e conseguirem dar conta, todos os dias, das cinco áreas. Há outros, entretanto, que assinam embaixo e dizem que, para terem sucesso, precisaram abdicar de algumas coisas.
Muito mais do que simplesmente analisarmos se a afirmação de Randi Zuckerberg está certa ou errada, penso que o importante é refletirmos sobre como estamos gerindo o nosso tempo e elegendo as nossas prioridades, seja você uma empreendedora, um profissional autônomo ou uma executiva.
No coaching, há uma ferramenta chamada “Perdas e Ganhos”, onde, basicamente, a pessoa se dá conta de que, para cada ganho, há uma perda e, da mesma forma, para cada perda, há pelo menos um ganho.
Assim, em última instância, se você escolheu se focar em alguma atividade, certamente alguma outra ação vai ser deixada de lado. Querer fazer tudo e ser tudo pode ser uma tremenda fonte de frustração. Além disso, para aqueles que sentem a necessidade de agradar a muitos, como disse certa vez John F. Kennedy: “Não posso lhe dar a fórmula do sucesso, mas a do fracasso é tentar agradar a todo mundo”.
Escolher, por outro lado, pode ser doloroso, pois necessitamos abdicar de alguma outra coisa e podemos desagradar algumas pessoas. Às vezes, ficamos reféns de várias prioridades, em razão da dor que sentimos em deixar algo de lado. Por vezes, esse dilema chega a paralisar algumas pessoas, não conseguindo fazer nem uma coisa nem outra.
E só podemos ter de fato foco quando fazemos escolhas, por mais difíceis que elas sejam. Perceba que isso não significa que não faremos as atividades não escolhidas mais para frente. Somente que, neste momento, daremos prioridades para outras.
Confesso que sou um adepto de Pareto para determinar as prioridades em minha vida, isto é, quais são os 20% das ações que eu posso realizar e que me irão me gerar 80% dos resultados. Você pode conferir um outro post sobre o princípio de Pareto: https://icarreira.com.br/voce-sabia-que-1-das-suas-acoes-podem-gerar-50-dos-seus-resultados/
O princípio de Pareto tem a ver com a ideia de que “menos é mais”. Há 80% das ações que vão resultar em apenas 20% dos resultados. O que ocorre é que, não raras vezes, nos focamos justamente nessa porção que eu costumo chamar de “Pareto invertido”.
No livro “A Única Coisa”, Gary Keller lembra que todos nós temos o mesmo número de horas por dias, mas algumas pessoas parecem conseguir fazer muito mais do que outras. A questão, segundo ele, é que aquelas pessoas focam no mais simples. Elas compreendem que resultados extraordinários são determinados por quão específico você pode tornar o seu foco.
Keller comenta que a maioria das pessoas pensa apenas no oposto disso, ou seja, acham que o sucesso consome tempo e é complicado. Como consequência disso, seus calendários e suas listas de tarefas acabam abarrotados.
“O problema em tentar fazer demais é que, ainda que funcione, isso lhe traz uma série de inconvenientes, tais como prazos não cumpridos, resultados decepcionantes, muito estresse, tédio, menos sono, má alimentação, nada de exercício e a perda de momentos com a família e amigos”, diz Gary Keller em seu livro.
Keller faz uma analogia entre determinar “a única coisa” e o efeito dominó. Uma peça de dominó pode não somente derrubar outras iguais a ela, mas também objetos sucessivamente maiores.
Segundo ele, o sucesso é sequencial, não simultâneo. O que começa linear se torna geométrico. Você faz a coisa certa, depois faz a próxima coisa certa. Com o tempo, elas se somam e o potencial geométrico do sucesso é deflagrado, como num efeito dominó.
E quanto a você? Como tem se comportado no que diz respeito a prioridades e gestão do seu tempo? Você tem focado ou tem se dispersado com uma multidão de prioridades?
Parafraseando Gary Keller, você está mais para “Várias Coisas” ou “A Única Coisa”?
