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Este artigo é uma tradução do texto originalmente publicado no site Greater Good, da Universidade da Califórnia, Berkeley, com o seguinte título: Can You Change Your Personality? https://greatergood.berkeley.edu/article/item/can_you_change_your_personality

 

Eu sou uma extrovertida – ou assim me dizem que sou. Eu fico geralmente mais energizada quando estou com outras pessoas do que sozinha, e eu gosto de trocar ideias com os meus amigos, ao invés de ponderar eu mesma sobre elas.

 

Extroversão (versus introversão) é um dos cinco grandes traços de personalidade que psicólogos têm identificado como sendo chave para a personalidade de um indivíduo. Juntamente com outros quatro traços – abertura a novas experiências, “agradabilidade”/amabilidade ou a preocupação com a harmonia social, consciência ou autodisciplina, além de instabilidade emocional – o nosso nível de extroversão é considerado como “fixo” quando nós atingimos a fase adulta, somente modificando de forma incremental depois de então.

 

Cientistas acreditam que os traços da personalidade não apenas determinam como nós somos, mas também podem impactar nos nossos relacionamentos sociais, experiências de trabalho, saúde física e mental, assim como em outros aspectos da nossa vida.

 

Mas um estudo recentemente publicado sugere que a nossa personalidade pode ser mais mutável do que nós pensávamos.

 

Pesquisadores da Universidade de Chicago analisaram mais de duzentos estudos para ver como diferentes tipos de psicoterapia e tratamentos medicamentosos impactavam nos traços de personalidade de pessoas com problemas de saúde mental. Embora estudos clínicos nem sempre objetivem mudá-los, os traços de personalidade são frequentemente medidos mesmo assim, tornando possível observar mudanças.

 

Os resultados dessas análises mostraram que, dentro de curtos espaços de tempo (algo como de 2 a 16 semanas de terapia), os traços de personalidade de fato mudaram, de forma duradoura e positiva. Em particular, a instabilidade emocional melhorou e a extroversão aumentou significativamente, com a autoconsciência e a agradabilidade crescendo de maneira incremental também. A abertura foi o único traço que não pareceu mudar tanto. Esse resultado surpreendeu o psicólogo comportamental e autor chefe do estudo, Brent Roberts.

 

“Nós nem imaginávamos que os traços da personalidade eram aspectos que poderiam mudar em questão de semanas ou meses”, ele disse. “Normalmente, nós somos muito confortáveis com a ideia de que os traços de personalidade podem desenvolver ao longo dos anos, mas não em períodos menores do que esse”.

 

Análises adicionais sugeriram que essas mudanças na personalidade não eram temporárias, mas duravam muito tempo depois que os tratamentos terapêuticos haviam terminado – pelo menos naqueles estudos que fizeram um acompanhamento de longo prazo das análises. Fora isso, as mudanças na personalidade pareciam refletir mudanças em características gerais, não apenas uma mudança temporária no humor, tal como o alívio da depressão ou da ansiedade.

 

De acordo com Roberts, essas mudanças são significativas por causa da forma que os traços de personalidade como autoconsciência e estabilidade emocional estão ligados aos nossos relacionamentos, trabalho e saúde. Se intervenções terapêuticas mudam a personalidade, elas podem ter ainda maior impacto em outras áreas da vida.

 

Talvez surpreendentemente, o tipo de terapia usado – cognitivo comportamental ou terapia de suporte, por exemplo – não pareceu importar nos resultados. Isso sugere que nenhuma terapia foi mais eficiente em mudar os traços da personalidade do que as outras, e os pacientes podiam estar mudando em áreas que os seus terapeutas não estavam trabalhando especificamente (e talvez não estivessem sequer se dando conta).

 

“Não somente os terapeutas estão fazendo com que os pacientes se sintam melhor – reduzindo a sua depressão, por exemplo, eles os estão armando com as ferramentas que lhes ajudarão a seguirem adiante”, comenta Roberts. “Para a maior parte, isso nem passava pela cabeça e estava fora de cogitação”.

 

Por outro lado, o motivo do cliente para começar a terapia de fato impactou no nível da mudança na personalidade. Aqueles que buscaram a terapia para tratar ansiedade ou transtornos de personalidade (tais como transtorno de personalidade borderline ou transtorno de personalidade narcisista) mudaram mais, enquanto que aqueles com abuso de substâncias e transtornos alimentares mudaram menos. Não está claro o porquê disso, especialmente já que transtornos de personalidade são considerados tão difíceis de tratar quanto o abuso de substâncias. Mas isso sugere que nem todo mundo é capaz de mudar no mesmo grau e que mais pesquisa é necessária para descobrir as razões.

 

De uma forma geral, esses resultados mostram que nós talvez devamos reconsiderar o que nós entendemos como personalidade. Embora possamos pensar em nossas personalidades como partes estáveis de quem nós somos, é claro que isso não é necessariamente verdade.

 

Roberts espera que as suas descobertas inspirem nova pesquisa sobre como a mudança acontece durante a terapia. Pode ser que a personalidade mude não por causa de técnicas terapêuticas específicas, mas em razão de alguma coisa comum a todas as formas de terapia, como a atenção positiva e o cuidado que os terapeutas dispensam aos pacientes. Qualquer que seja o caso, Roberts acredita que os seus resultados podem impulsionar o campo das pesquisas sobre a personalidade.

 

“Há algumas pessoas no meu campo de atuação que não acreditam em personalidade, e algumas não acreditam que a personalidade muda”, diz Roberts. “Eu estou dizendo que os traços de personalidade não somente existem, como você pode mudá-los. Isso meio que destrói a visão de mundo de muitas pessoas”.

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