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Este artigo é uma tradução do texto originalmente publicado no site Greater Good, da Universidade da Califórnia, Berkeley, com o seguinte título: How Spending Influences Happiness (https://greatergood.berkeley.edu/article/item/how_spending_influences_happiness#gsc.tab=0).

 

Há 6 anos atrás*, um estudo de referência descobriu que o dinheiro de fato melhorava o bem estar subjetivo, mas somente até certo ponto: os pesquisadores de Princeton descobriram que, acima de uma renda familiar anual de cerca de US$ 75.000, mais dinheiro não traria mais felicidade.

 

Porém, isso não significa que a forma com que as pessoas (de todos os níveis de renda) gastam o seu dinheiro é irrelevante. Investir dinheiro em experiências em vez de bens materiais pode nos trazer um incremento em felicidade, assim como gastar dinheiro com outras pessoas. E nós vamos ter maior impacto positivo na felicidade se nos permitirmos experimentar pequenos prazeres (com alta frequência) ao invés de grandes ostentações (embora em poucas ocasiões).

 

Agora, um novo estudo publicado pela Pyschological Science sugere que o dinheiro também pode comprar felicidade quando nós o gastamos em produtos que se adequam à nossa personalidade.

 

Em um estudo inicial, pesquisadores da Universidade de Cambridge analisaram seis meses de transações bancárias feitas por 625 clientes de um banco no Reino Unido. As transações foram separadas em 59 categorias, de jardinagem a cafeterias, de contador a dentistas. Cada uma dessas categorias recebeu uma pontuação (de um grupo separado de pessoas) para cada um dos cinco grandes traços de personalidade. Por exemplo, gastar com caridade poderia significar uma consciência mais desperta e mais alta “agradabilidade”/amabilidade por parte das outras pessoas, enquanto gastar com turismo poderia refletir uma maior abertura a experiências e maior extroversão. Os participantes também classificaram a sua satisfação com a vida.

 

Ao longo de mais de 76.000 transações, os pesquisadores descobriram que, com uma melhor adequação entre a sua personalidade e as suas compras, os participantes eram mais satisfeitos com a vida. Essa correlação era ainda mais forte do que a correlação entre a renda total (ou o gasto total) e a satisfação com a vida, independente de renda, idade e gênero.

 

Os pesquisadores sugerem que essa ligação entre personalidade e compras reflete uma forma autêntica de auto expressão.

 

“O dinheiro nos permite levar a vida que desejamos”, diz a autora principal Sandra Matz, estudante de PhD na Universidade de Cambridge. Ela e os seus coautores explicam que “a adequação psicológica ajuda os indivíduos a agir em linha com as suas necessidades mais fundamentais e as suas preferências, assim como a se expressar de uma forma que mantenha e realce os seus próprios conceitos”. Estudos prévios têm descoberto que pessoas são mais felizes em empregos (e mesmo em vizinhanças) que se adequem à sua personalidade.

 

Contudo, é possível que algo mais estava influenciando nos gastos e na satisfação de vida: talvez pessoas que fossem mais autoconscientes e sintonizadas com as suas próprias necessidades se sentissem mais satisfeitas e gastassem mais em produtos mais apropriados ou compatíveis. Essa é uma questão que os pesquisadores quiseram atacar em um segundo estudo, o qual perguntava: se nós dermos dinheiro às pessoas para gastar em algo que se adeque às suas personalidades, elas ficarão de fato mais felizes? Esse tipo de experimento pode mostrar uma causalidade: um caminho direto dos gastos compatíveis até a felicidade.

 

Nesse novo estudo, os pesquisadores ofereceram um voucher de US$ 10 para 79 introvertidos e extrovertidos, a fim de gastarem seja em uma livraria, seja em um bar. Os participantes reportavam as suas emoções positivas e negativas antes do experimento começar e várias vezes depois, por exemplo, durante o recebimento do voucher, a realização da compra e o momento do consumo.

 

Quando havia uma adequada relação personalidade-gastos – quando introvertidos eram enviados para uma livraria ou extrovertidos para um bar – os níveis de felicidade subiam. Quando havia uma incompatibilidade, a felicidade dos participantes permanecia a mesma ou então diminuía. A adequação psicológica parecia particularmente crucial para introvertidos, que eram muito mais felizes comprando livros. Extrovertidos, de forma alegre e expansiva, pareciam relativamente contentes com ambas as compras.

 

Mas o que será que está ocorrendo?

 

Segundo o professor Tom Gilovich, da Universidade de Cornell, que é conhecido por seu trabalho em gastos com experiências versus felicidade, a relação entre a personalidade e o ambiente pode ser bastante complexa. Talvez os extrovertidos foram capazes de transformar a compra de livros em uma experiência social, conversando com outros clientes ou escolhendo uma leitura motivadora. Enquanto isso, os introvertidos no bar – alguns angustiados pelas multidões e pela música alta – podem não somente ter se sentido deslocados, mas também inadequados. Como Gilovich pontua, os introvertidos têm mais vergonha sobre a sua personalidade, às vezes se preocupando em não atender às expectativas da sociedade em termos de empolgação e simpatia.

 

Em pesquisa a ser realizada futuramente, Matz espera tratar algumas dessas dinâmicas e investigar com mais profundidade como esse efeito ocorre. Por que, por exemplo, todo mundo não gasta dinheiro consistentemente em formas que se adequem à sua personalidade? O consumo pode ativar o nosso desejo de ser apreciados e respeitados pelos outros. Mas se a nossa personalidade não é ideal, de acordo com a sociedade – se nós somos introvertidos, por exemplo, ou menos agradáveis – nós podemos ser pressionados a comprar o que é esperado que compremos, em vez de comprar aquilo que nós realmente desejamos. Outras pesquisas podem examinar se as pessoas com “personalidades aprovadas pela sociedade” se beneficiam mais de um gasto “compatível” e o que significa para aqueles de nós que não são tão “ideais”.

 

Assim, da próxima vez que você estiver escolhendo entre um carro esportivo ou uma minivan, aula de pilates ou de costura, você pode considerar se quer sair da sua zona de conforto – ou encontrar algo que seja mais apropriado à sua personalidade.

 

*Nota: A pesquisa do prêmio Nobel Daniel Kahneman foi publicada em 04 de agosto de 2010, isto é, já faz mais do que os 6 anos mencionados pela autora do post, já que ela o escreveu em 2010. Caso tenha interesse em acessar o link contendo a pesquisa de Kahneman, basta clicar em http://www.pnas.org/content/107/38/16489.full).

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