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Um dos maiores coachs da atualidade, Tony Robbins (já falei dele em outros artigos, entre eles: https://icarreira.com.br/6-necessidades-basicas-do-ser-humano/) costuma dizer que fazer a coisa certa na hora errada é sinônimo de fracasso.

 

Eu tendo a concordar plenamente com essa frase e começo a refletir sobre as consequências que ela traz, por exemplo:

 

  • só porque uma coisa deu errado agora não significa que não dará certo no futuro;
  • algo que deu certo no passado não necessariamente continuará a dar certo no futuro.

 

A vida é cheia dessas brincadeiras e experimentações e parece que está quase sempre nos testando, provocando, desafiando. Quando pensamos que sabemos todas as respostas, mudam as perguntas.

 

Talvez seja por isso que, recentemente, a filosofia lean startup tem não somente dominado a realidade das empresas nascentes (startups), mas também invadido o mundo das grandes corporações (Facebook, Amazon, Zappos etc). Desenvolvido pelo empreendedor Eric Ries no livro “A Startup Enxuta”, o pensamento lean startup recomenda que as empresas adotem uma atitude de experimentação acelerada, como numa série de tentativa e erro, para descobrir o que o cliente realmente quer, qual o mínimo produto viável (ou Minimum Viable Product – MVP, em inglês).

 

O MVP é o mínimo que o seu produto ou serviço deve ter para dar uma ideia ao público alvo do que ele vai oferecer quando estiver pronto. A ideia é que você receba logo o feedback do seu público e identifique se precisa fazer uma correção de rota (pivot), continuar com o modelo ou simplesmente partir para outra ideia. O importante é que você não vai perder muito tempo para descobrir o que fazer.

 

Até pouco menos de uma década atrás, falava-se bastante em elaborar um plano de negócios para conseguir financiamento, investimento e iniciar uma empresa. Hoje, com o crescimento do número de startups, mais e mais se fala em testar, experimentar, prototipar e, se for errar, que seja o mais rápido e barato possível.

 

Antes, os indivíduos e as empresas investiam muito tempo e energia na criação de produtos e empreendimentos para só depois descobrir se a coisa ia dar certo ou não. Ries defende que nós conduzamos experimentos para que tenhamos clareza sobre a percepção de valor do que estamos criando antes de investir muito tempo e energia.

 

É por isso que vemos empresas com produtos ou serviços inovadores que fracassam em determinado momento, mas outras empresas com produtos ou serviços similares são um verdadeiro sucesso em outro tempo ou local.

 

A questão é que a maioria dos seres humanos tem dificuldade com experimentações, já que temos medo do fracasso, de sermos ridicularizados, de perder tempo, isso para ficar em apenas alguns exemplos. Mas é justamente essa abertura e disposição ao erro que vai nos fazer evoluir e aprender na vida.

 

Quanto mais experimentamos ou testamos, mais chances temos de obter sucesso. Não adianta, a coisa é estatística. Se você tenta muito, tem boas chances de atingir o sucesso. Foi assim com Einstein, com Thomas Edison, com Jack Ma (criador do Alibaba) e com muitos outros.

 

Craig Venter, fundador da Celera Genomics disse certa feita: “A maioria das pessoas fracassa na ciência porque se convence a não fazer o experimento. Ideias todo mundo tem. O que faz a diferença é a execução da ideia”. Apesar do fato de Craig estar inserido em um setor muito específico, creio que a frase dele é útil para outros segmentos (se não for para todos!).

 

Uma outra declaração que tem tudo a ver com isso que estamos falando é da Pequena Miss Sunshine: “Perdedores são pessoas que têm tanto medo de não ganhar, que nem sequer tentam”.

 

Nós geralmente vemos somente o que deu certo, mas não prestamos muito atenção nas inúmeras vezes que as pessoas de sucesso amargaram fracassos. Acontece que a estatística estava ao lado dessas pessoas da mesma maneira que está do nosso. Basta a gente fazer uso dela. Isto é, basta a gente não ter receio em criar diversos experimentos em nossas vidas e empreendimentos.

 

Com relação a encontrar o momento certo, por mais contra-intuitivo que possa ser, a procrastinação pode ser uma aliada para lançarmos um produto, serviço, invenção ou empreendimento. Isso porque muitos pioneiros amargam fracassos retumbantes e assistem o sucesso de seus jovens concorrentes de camarote.

 

No Egito antigo, havia dois verbos diferentes para expressar a procrastinação: um significava preguiça e o outro significava esperar pelo momento certo.

 

Existe um pensamento em nossa cultura de que os pioneiros levam muita vantagem. De fato, é mais fácil pensar nos pioneiros que fizeram sucesso e, como normalmente os malsucedidos são rapidamente esquecidos, criamos a percepção de que estes são raros, quando na verdade, é justamente o contrário!

 

Os pesquisadores de marketing Peter Golder e Gerard Tellis compararam o sucesso de empresas pioneiras e empresas “colonizadoras”. Ao analisarem centenas de marcas em 36 categorias diferentes de produtos, notaram uma enorme diferença nas taxas de fracasso: 47% entre as empresas pioneiras e 8% entre as colonizadoras, ou seja, uma probabilidade 6 vezes superior das pioneiras fracassarem. Mesmo quando as pioneiras conseguiam sobreviver, elas conquistavam cerca de 10% do mercado, contra 28% das colonizadoras.

 

Os números acima jogam por terra aquela ideia de que o momento certo para lançar uma empresa é ser o primeiro em alguma categoria. Muitas vezes, o certo é diminuir a ansiedade e esperar um pouco mais.

 

Adam Grant é professor de psicologia na Universidade de Wharton e autor de livros que figuram na lista dos mais vendidos da The New York Times. Em seu livro “Originais” (o qual já citei em outro artigo aqui no iCarreira – https://icarreira.com.br/o-lado-bom-da-procrastinacao/), ele comenta no capítulo 4 (O apressado come cru) que “os amantes do risco são atraídos pelo pioneirismo e têm inclinação por tomar decisões impulsivas. Enquanto isso, empreendedores mais avessos ao risco observam do lado de fora do campo, esperando a oportunidade certa e equilibrando seus portfólios de risco antes de entrarem no jogo”.

 

Grant cita o exemplo da Warby Parker, comércio eletrônico de óculos nos EUA, que foi lançado mais de 10 anos depois dos pioneiros desbravarem a internet por lá, inclusive quando muitas empresas tentando vender óculos tiveram de fechar as portas. Um dos fundadores da Warby Parker chegou a comentar que eles tiveram de esperar a Amazon e Zappos criarem um ambiente seguro e acostumarem as pessoas a comprar produtos que normalmente não comprariam online antes. Só depois disso é que eles lançaram o site e começaram a ter sucesso.

 

Outro exemplo interessante dado por Grant sobre pioneirismo e momento certo é o do clínico húngaro Ignaz Semmelweis, o qual descobriu, nos anos de 1840, que obrigar os estudantes de medicina a lavarem as mãos reduzia drasticamente as taxas de mortalidade em partos. Ele foi ridicularizado por seus colegas e terminou seus dias em um asilo. Foi só duas décadas depois que as suas ideias foram abraçadas por Louis Pasteur e Robert Koch, lançando os fundamentos da teoria dos germes. O físico Max Planck fez uma observação relativamente ácida a respeito: “uma nova verdade científica não triunfa pelo convencimento, por fazer seus oponentes enxergarem a luz. Triunfa porque seus oponentes acabam morrendo”.

 

Grant faz questão de destacar que ele não acha que o pioneirismo não é bom. Ele observa que as vantagens do pioneirismo tendem a prevalecer quando há tecnologia patenteada ou quando se verifica efeito de rede (redes sociais e telefone, por exemplo). E certamente há empresas ou indivíduos que são pioneiros e de muito sucesso, só que isso não é tão comum como imaginamos.

 

Percebam que essa questão de pioneirismo pode também ser traduzida, em alguns momentos, por “ansiedade”. No afã de fazer algo novo ou colocar alguma invenção no mercado, o indivíduo pode deixar a sua ansiedade tomar as rédeas da sua descoberta e simplesmente errar o alvo, lançando o produto, invenção ou serviço antes da hora, sem ter um feedback claro do público consumidor ou sendo apenas a exclusiva vontade do criador.

 

E aí vem um concorrente com mais serenidade e calma, atacando o âmago do problema e fazendo melhorias substanciais sobre a descoberta do pioneiro.

 

Certamente, isso não é uma ciência exata. Se o fosse, bastaria aplicar uma fórmula para obter sucesso. O sucesso, porém, é reservado para aqueles que se dispõem a sair da zona de conforto, a experimentar, a testar, sem ansiedade, mesmo que isso resulte em fracasso. Winston Churchill uma vez falou: “o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”. Precisamos ter em mente que uma das únicas certezas é a incerteza.

 

De 0 a 10, o quanto você está em uma zona de conforto? O quão disposto está a experimentar e sofrer reveses (de baixo impacto, afinal nós temos de gerenciar bem os riscos)? Você tem usado a procrastinação em seu favor?

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