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Já dizia um provérbio Africano: “quando não há inimigos internos, os inimigos externos não podem nos ferir”. Isso tem tudo a ver com o título deste artigo e com o livro que iniciou o coaching como nós conhecemos hoje. Este livro vai nos ajudar a entender porque nós somos os nossos piores inimigos. Fica comigo que você já vai compreender essa história!

Timothy Gallwey ou simplesmente Tim Gallwey é o autor do livro O Jogo Interior de Tênis. Este livro é considerado como o início do coaching como nós conhecemos hoje. No livro, Tim analisa a psicologia de um jogo de tênis. Mas as lições do livro ultrapassam em muito a arena do tênis e dos esportes, e servem para a vida como um todo.

Todos os jogos são compostos de 2 partes: um jogo exterior e um jogo interior. O exterior é aquele em que jogamos contra um adversário. No caso do tênis, o jogo externo tem a ver em como segurar a raquete, como movimentar as pernas, os braços etc. A maioria dos jogadores sabe o que tem de ser feito. O problema é que, nem sempre, eles conseguem fazer o que eles sabem que tem de ser feito.

E é aí que entra em cena a outra parte, que é o jogo interior. Este é o jogo que acontece na mente do jogador, e os obstáculos são, por exemplo, falta de concentração, nervosismo, falta de confiança em si mesmo, auto-condenação, entre outros. Assim, o jogo interior tem por finalidade superar todos os hábitos da mente que inibem a excelência do desempenho.

Uma vez, eu estava conversando com uma pessoa que jogava tênis nos EUA em nível quase profissional. Essa pessoa me comentou que a preparação psicológica dos jogadores era algo fundamental. Coisas que eu nem imaginava que acontecessem, como por exemplo, provocações sutis ou disfarçadas de um jogador para tirar a concentração do outro, de fato aconteciam. Por isso, mais do que tudo, o jogo interior era chave para um alto desempenho na carreira como tenista.

Em determinado momento do jogo, o jogador está marcando um ponto atrás do outro e aquele sentimento de confiança vem à tona. Aí, o camarada começa a perder um ponto após o outro. De repente, começam a aparecer pensamentos de raiva, de desconcentração, de que ele não tem um backhand bom mesmo, de que a raquete só pode estar com algum problema, que até o avô dele conseguiria devolver melhor a bola etc. Ou seja, em questão de poucos minutos, aquela autoconfiança se transforma em frustração, nervosismo e falta de confiança. Mas como pode o cara mudar tão rápido de estado mental assim? Esse é o poder do inimigo interno. É por isso que nós dizemos que ele é muito mais poderoso do que o adversário do outro lado da rede.

Tim Gallwey comenta que é muito comum os jogadores de tênis conversarem consigo mesmos. Eles dizem para si coisas como: “dobre os joelhos”; “prepare-se para o seu backhand”. Às vezes, eles repreendem a si mesmos. É como se houvesse 2 “eus”. Um “eu” que dá as instruções e um outro “eu” que executa as ações. Depois, o que dá as instruções analisa se aquele que executou a jogada performou bem ou não. Tim Gallwey chamou aquele que dá instruções de ego 1 e aquele que executa de ego 2. E daí vem uma das primeiras lições do livro: que o segredo para um jogo de tênis melhor (ou qualquer outra coisa) está em um relacionamento melhor entre o instrutor consciente (ego 1) e o realizador inconsciente (ego 2). O grande problema é que o instrutor consciente (o ego 1) não confia no realizador inconsciente (o ego 2), apesar do ego 2 ser extremamente competente. E daí vêm as reclamações do ego 1 em relação ao ego 2.

Por isso, Tim Gallwey também fala que a constante atividade de pensar do ego 1 interfere no processo natural de fazer do ego 2. E que a harmonia entre os dois egos só ocorre quando a mente está calma ou quieta. Somente assim é que o jogador vai estar de fato no jogo. Nesse caso, o jogador joga quase que no automático. Ele entra em uma espécie de túnel, ou de transe ou em um outro mundo, se você preferir. É nesse momento que o ego 2, o realizador inconsciente, tem toda a liberdade para exercer a sua excelência. Ou seja, quando o ego 1 não está chamando ele de estúpido ou algo parecido com isso. Eles estão unidos, totalmente voltados para vencer a partida, e vencer o oponente que está do outro lado da rede. Caso contrário, pode ter certeza, o maior oponente vai estar dentro do próprio jogador.

É por isso que temos alguns casos de jogadores muito habilidosos, mas com uma programação mental péssima, que acaba minando totalmente a sua habilidade. E é por isso que temos pessoas com um brilho enorme e uma inteligência destacada, mas que não conseguem deslanchar na vida e na carreira. O diálogo interno dessas pessoas é, algumas vezes, nocivo e tóxico. Se as palavras dessas pessoas fossem comidas, elas certamente não seriam alimentadas, mas infelizmente envenenadas. Aposto como você deve conhecer algumas dessas pessoas.

E note que não estou aqui falando de pensamento positivo. Pensamento positivo é, sim, importante, mas ele tem de vir acompanhado de ações em massa. Para o jogador de tênis ou qualquer outro profissional ter sucesso, é necessário treino exaustivo e trabalho exaustivo. Ninguém vai vencer no mundo dos esportes ou no mundo profissional sem treino e execução. Mas a programação mental do cara precisa acompanhar. De que adiante o camarada ter um diploma de Harvard, mas não ter as crenças necessárias para vencer na carreira? E isso acontece mais do que a gente imagina. O cara está preso. O cara tem um carcereiro mental que impede ele mesmo de progredir na vida.

Perceba que não são as outras pessoas que são o obstáculo, mas é a própria pessoa. Essa é uma outra lição que tiramos para a nossa vida: se nós somos o nosso maior inimigo, cabe a nós a responsabilidade de deixar de ser o nosso inimigo. Quando o inimigo é o outro, é muito mais difícil lidar com isso, pois mudar outras pessoas é infinitamente mais difícil. Aliás, se você está tentando mudar alguma pessoa, por mais que ela não seja sua inimiga, que tarefa ingrata essa sua! Agora, mudar a nós mesmos, só cabe a nós. É uma questão de decisão e de treinar.

A programação neurolinguística (PNL) pode também ajudar bastante nesse sentido. A PNL entende que corpo e mente formam um sistema interligado. E isso tem tudo a ver com o livro do jogo interior de tênis. Quando o jogador começa a errar e o ego 1 começa a xingar o ego 2, essa luta mental acaba interferindo na fisiologia do jogador. Os músculos da face se retraem; os movimentos ficam mais abruptos e em desarmonia; algumas palavrões começam a aparecer… Enfim, o cara entra numa espiral ruim. E essa fisiologia se transforma em ações ou comportamentos ruins, isto é, em erros. Ou seja, a mente influenciou o corpo, assim como a PNL já fala. E tem o lado inverso também, pois o corpo vai influenciar a mente. Assim, cria-se um círculo negativo, pois um retroalimenta o outro.

De tudo isso que vimos, fica claro que não adianta somente ter habilidade em alguma coisa. É fundamental ter a disposição mental e a programação mental adequada para atingir o sucesso. Caso contrário, nós iremos nos tornar os nossos maiores inimigos. Precisamos assumir a nossa responsabilidade e deixar de culpar as outras pessoas pelas nossas derrotas. Nós, sim, temos a responsabilidade de lutar pela nossa vida e carreira, e não as outras pessoas. Esse é o conceito da autorresponsabilidade. Parar de colocar a culpa nos outros e assumir tanto a culpa, como os louros.

O coaching é uma metodologia que busca, entre outros, integrar ou harmonizar o ego 1 e o ego 2, de que fala Timothy Gallwey, no livro O Jogo Interior de Tênis. O coaching vai trazer clareza, entendimento e congruência ao coachee. E essa congruência é justamente a integração do ego 1 com o ego 2. É nesse momento que a pessoa vai estar em contato com a maestria inconsciente. É nesse momento em que todas as energias e foco dela estarão voltados para o jogo. Enquanto ela está incongruente, com divisões internas, a energia e foco dela estão sendo desperdiçados. Mas quando ela está congruente, aí a coisa muda muito de figura. Nós precisamos liberar o potencial que a nossa mente inconsciente possui. Parar de travar ela e deixar ela fluir.

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