Como pano de fundo para este post, gostaria de fazer referência ao livro “Rápido e Devagar”, do Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia. Esse livro é uma das obras primas da economia comportamental e, se você ainda não o leu, recomendo expressamente a sua leitura, ainda que lhe desejo bastante determinação, pois o livro tem mais de 500 páginas!

No capítulo 4, Kahneman cita sobre um fenômeno psicológico chamado priming. Esse efeito é uma espécie de associação que a nossa mente faz quando submetida a palavras, conceitos e outros.

Por exemplo, um caso bastante simples que ele menciona no livro é a simples sugestão de apenas 2 palavras: banana e vômito. Provavelmente, você associou uma palavra à outra e talvez manifestou nojo e outros sentimentos de desagrado. E você o fez de maneira automática, ou melhor, a sua mente o fez e isso foi além do seu controle.

Note que, racionalmente falando, não havia evidência alguma para você relacionar que as bananas provocaram o vômito. Na verdade, a sua mente associou automaticamente uma sequência temporal e uma conexão causal entre as 2 palavras. E essa mente é a sua mente inconsciente, ou sistema 1, como Kahneman utiliza em seu livro. O sistema 2, portanto, é a nossa mente consciente ou “racional”.

Ocorre que a nossa primeira mente a entrar em ação é a mente inconsciente (sistema 1) e, só depois, a mente consciente (sistema 2) toma partido e interfere. Esta última é relativamente “preguiçosa”, necessitando um certo esforço para agir.

Na década de 1980, psicólogos descobriram que a exposição a uma palavra pode evocar outras palavras. Por exemplo, Kahneman mostra que se você escutou recentemente a palavra EAT (comer, em inglês), está muito mais propenso a complementar o fragmento SO_P com a letra U, resultando em SOUP (ou sopa). Se, por outro lado, você tivesse acabado de ver a palavra WASH (lavar), haveria maior chance de complementar o mesmo fragmento acima com a letra A, ou seja, SOAP (sabão).

A nossa mente é tão poderosa que essas palavras evocadas têm a capacidade de evocar outras ainda, apesar de em menor intensidade. É como o ripple effect, onde ondulações se propagam na água assim que um objeto é jogado nela. E perceba que isso tudo ocorre na nossa mente inconsciente numa velocidade absurda e fora do nosso controle ou sem a ajuda da nossa mente racional.

A mente inconsciente orienta os nossos julgamentos intuitivos, os quais podem ser certeiros, mas também podem ser erros sistemáticos. Ela também fornece as impressões que, muitas vezes, se transformam em suas crenças, escolhas e ações. E é aqui que mora o ponto de atenção.

Dependendo da qualidade dos programas de TV que você assiste, é razoável imaginar que você pode não estar “alimentando” a sua mente com ideias, conceitos e sugestões saudáveis para a sua vida e carreira profissional. E isso pode ter um impacto muito maior do que você gostaria de acreditar. Aquela sugestão que você ouviu e viu na TV poderá desencadear outras palavras, ações e ideias que irão influenciar a sua vida pessoal e profissional. E pior: sem que você se dê conta disso!

Por isso também que é cada vez mais comum pessoas que fazem um detox de televisão ou que limitam bastante o tempo, os canais e os programas que assistem na TV. Eu, por exemplo, assisto muito pouco TV e, quando o faço, é para algum documentário, programa de esporte e telejornal com bons comentaristas (confesso que penso em parar com este último, já que as notícias do Brasil nos últimos anos são de chorar! De raiva e tristeza!).

Note que a ideia não é se isolar do mundo e ir para um retiro espiritual. Mas é saber filtrar muito bem aquilo a que nos expomos, porque, querendo ou não, isso nos afeta e influencia de alguma forma (emoções, ideias, atitudes).

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia (IBOPE), em 2014, o brasileiro passou em média 4h31 por dia durante a semana e 4h14 por dia nos fins de semana. É verdade que isso é uma média e há diferenças entre homens e mulheres, classes sociais, idade do telespectador etc. Mas, ainda assim, é muito tempo em frente à tela de um televisor, sendo bombardeado ou sugestionado a torto e a direito.

É por isso que a American Academy of Pediatrics (Academia Americana de Pediatria) recomenda um certo limite de tempo para crianças e adolescentes por dia em frente à TV. Há estudos nos EUA que mostram haver uma correlação entre crianças com sobrepeso e que passam mais de 4 horas por dia vendo TV.

Aliás, há uma discussão nos EUA de longa data sobre os efeitos do priming na propaganda televisiva de alimentos. Eles se questionam se estão permitindo demais a veiculação em massa de anúncios de alimentos não saudáveis, o que talvez esteja provocando ou favorecendo a obesidade da população.

Jovens que ficam expostos a programas violentos têm maior tendência a demonstrar comportamento agressivo. Especialistas estimam que um adolescente de 18 anos tenha visto cerca de 200.000 atos de violência na televisão.

A lista não para por aí. Há constatação de piora na qualidade do sono, quadros depressivos, problemas de postura, dificuldades para leitura, empobrecimento psicossocial e muitos outros.

A televisão pode causar inclusive dependência, tal qual o cigarro e o álcool. Isso foi o que constataram os pesquisadores Robert Kubey, diretor do Centro de Estudos de Mídia da Universidade Rutgers, e Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da Universidade de Claremont.

Eles monitoraram as ondas cerebrais, a resistência da pele e os batimentos cardíacos de voluntários quando em frente da televisão. Os pesquisadores confirmaram que as pessoas se sentiam relaxadas quando assistam TV, mas esse sentimento desaparecia tão logo os voluntários desligavam o aparelho.

Caso queira dar uma olhada nessa pesquisa, é só acessar o link: http://www.simpletoremember.com/vitals/TVaddictionIsNoMereMetaphor.pdf

É por tudo isso que você fará um tremendo avanço na carreira e em sua vida familiar e pessoal ao reduzir drasticamente (senão eliminar) o tempo gasto em frente ao televisor, além, é claro de selecionar o que você vai assistir. Afinal, um brasileiro médio gastando mais de 4 horas por dia assistindo TV está, de fato, passando mais de 25% do tempo útil da vida (supondo 8 horas de sono) em frente ao aparelho de televisão.

Vamos nos alimentar com programações instrutivas, educativas e que enriqueçam a nossa existência, não que suguem as nossas forças e sequestrem as nossas emoções e a nossa tranquilidade.