Este artigo é uma tradução do texto publicado no site da revista norte americana Fast Company com o título “How Being A Product Designer Has Helped Me Redesign My Life” (https://www.fastcompany.com/40497328/how-being-a-product-designer-has-helped-me-redesign-my-life)
Nos últimos tempos, eu tenho pego a mim mesmo soltando termos de startup em conversas do dia a dia com os meus amigos. Eles têm começado a fazer o mesmo. Na maior parte do tempo, esses termos são proferidos com ironia, mas, às vezes, nós nos olhamos meio que constrangidos em admitir que “prova de conceito” (do inglês proof of concept) realmente faz total sentido.
Eu sou um designer de produto, sobretudo para startups, há aproximadamente sete anos e, tão cliché quanto possa parecer, eu comecei a (sem ironia nenhuma) abraçar o que tenho aprendido em minha carreira para tornar a vida diária um pouco mais feliz e produtiva. E, honestamente, parece que está funcionando. Aqui estão algumas life hacks (espécie de técnicas ou estratégias adotadas a fim de gerenciar atividades de uma maneira mais eficiente) que eu tenho adaptado ao meu tempo gasto no trabalho.
USE O TRUQUE DOS CINCO “PORQUÊS” PARA ASSUNTOS INTERPESSOAIS
Eu costumava gastar muito mais tempo debatendo os resultados de uma situação ruim, sem me dar conta de como resolvê-la ou evitar que aquele problema acontecesse novamente no futuro.
Em uma startup de tecnologia que eu trabalhei anteriormente, nós estávamos tentando aumentar as vendas em uma certa categoria de produto. A nossa primeira solução incluía um botão que te levaria diretamente para aqueles produtos. Nós percebemos que as pessoas não estavam comprando porque eles estavam um pouco escondidos. Quando isso não deu certo, nós tentamos outras formas de colocar aqueles produtos na frente dos usuários. Foi somente depois de termos construído dois novos designs que nós notamos que não era uma questão de como estávamos apresentando os produtos. Era que as pessoas simplesmente não queriam compra-los.
Então, nós retornamos e fizemos um pouco mais de pesquisa de mercado, descobrindo o que poderia motivar os usuários a comprar dentro daquela categoria de produto. Isso nos ajudou a desenhar uma oferta que acabou tendo desempenho muito melhor. Se nós tivéssemos usado o clássico método de perguntar ‘por quê?’ cinco vezes, nós teríamos resolvido o cerne do problema muito mais cedo.
Surpreendentemente, isso também é verdade no que tange a lidar com pessoas. Ultimamente, eu tenho tentado adotar o hábito de perguntar ‘por quê?’ algumas vezes, a fim de entender qual a razão de eu estar respondendo a alguém, ao invés de discutir sobre os detalhes de qualquer desentendimento superficial que nós estejamos tendo. Por exemplo, eu tenho saído com pessoas que têm respondido com ciúmes a um ou dois posts em mídias sociais. É fácil entrar em uma discussão sobre um tuíte ou um post do Instagram e evitar discutir sobre a insegurança que alguém possa sentir acerca da sua importância para você.
A solução real, eu tenho aprendido, não é colocar barreiras no que o outro tem permissão para postar. Cave mais fundo e você poderá perceber que a resposta é apenas ter uma conversa franca: como esta pessoa se encaixa na sua vida? Ela enxerga da mesma forma? Se ela for importante para você, como você pode criar um espaço para ela e como ganhar a sua confiança? Ser um designer de produto tem me ajudado a parar de tratar os sintomas e tentar diagnosticar as causas.
ASSUMA A PERSPECTIVA DOS OUTROS, MESMO QUANDO EXPLICANDO A SUA
No início da minha carreira, eu usava o design na minha própria vida. Eu esperava que todos compreendessem a tecnologia tão bem quanto eu compreendia, e pensava que o uso de cases, que eram extremamente relevantes para mim, também o seriam para todas as outras pessoas. Esse é um engano muito comum em designers novatos e, quando eu o superei, aprendi a parar de assumir que as pessoas possuíam a mesma perspectiva que eu.
Essa percepção foi um passo além, graças à minha experiência profissional. É ótimo entender que, não, as pessoas não agem da mesma forma que você, e é ainda melhor compreender ‘por quê?’ isso acontece – e porque em outros casos é justamente o contrário. Quanto mais rapidamente você conseguir criar empatia com a posição de alguém, mais efetiva será a conversa que você vai ter com ele(a). Especialmente quando você tem de 20 a 30 anos, depois que você já tem alguns anos de experiência profissional, é fácil dar um desconto nos conselhos dos seus pais ou opiniões acerca da sua vida e carreira. O seu pai nunca trabalhou em uma startup. Assim, como ele poderia saber quais pressões você está experimentando no trabalho?
Há boas chances de que ele pode entender melhor do que você imagina, mas ele está se expressando em sua própria perspectiva, ao invés da perspectiva do jovem para o qual ele está dando conselhos. Percebendo isso, eu tentei mudar radicalmente quando falo com o meu irmão mais novo. As coisas podem ficar muito reativas e emocionais quando você está tentando oferecer uma palavra a alguém por quem você tem alta estima, de maneira que você despeja conselhos a partir do seu próprio ponto de vista.
Tão óbvio quanto parece, eu levei um tempo e alguma experiência no mundo do design para entender que o meu irmão é uma pessoa completamente diferente de mim, e que ele compreende o mundo de uma maneira muito distinta. Então, a fim de ter conversas produtivas com ele, eu preciso entender como ele vê as coisas e mudar a forma como eu me comunico.
NUNCA DEFINA UMA META SEM UMA MÉTRICA
Produtos digitais são basicamente métricas. Cada clique, cada conversa – estes estão sempre subindo e descendo devido a fatores que não estão sempre aparentes imediatamente. Mas você raramente vai percebê-los se você não tem uma linha de base prévia e clara contra a qual medir os seus resultados.
Na vida cotidiana é a mesma coisa. Identificar as métricas de sucesso no momento que você define uma meta é importante porque ajuda você a evitar redefinir o que o sucesso significa, ou apenas baseado em como você se saiu na semana passada. No início deste ano, eu falei para mim mesmo que queria ir para a academia mais vezes. Eu comecei a ir quatro vezes por semana e, na semana seguinte, eu fiquei enrolado e fui somente três vezes, e a minha frequência foi diminuindo lentamente. Já que eu não defini limites ou metas claros que de fato ditassem a minha agenda, o meu hábito de ir à academia foi facilmente substituído por outro.
Nestes dias, da mesma forma para qualquer produto que eu estou projetando, eu evito definir um novo hábito (ou recomeçar um hábito antigo) sem estabelecer algum tipo de métrica quantitativa e consistente. Se as minhas idas à academia estão abaixo de três dias por semana, isso é um alerta para procurar pelos fatores que estão causando a queda. Onde eu tenho perdido tempo e como eu posso cortar algo a fim de retornar à minha rotina de exercícios? Ou será que eu estou muito bem, apenas ajustando o que o sucesso significa para mim?
CRIAR “PRODUTOS MÍNIMOS VIÁVEIS” PARA A SUA VIDA
Eu costumava comprar cadernos achando que eles me ajudariam a escrever mais, ou a me matricular em academias pensando que elas me incentivariam a me exercitar mais. Eu até via o meu comportamento mudar temporariamente, mas uma vez que a novidade tinha passado, eu me encontraria no mesmíssimo lugar que eu estava antes. O problema raramente é que você não pertence a uma academia bacana ou que você não possui um caderno legal para escrever.
Para descobrir a real razão, pergunte “por quê?” cinco vezes e depois adote o método que a maioria das startups adota, construindo um produto mínimo viável (da sigla em inglês MVP, que são as iniciais de Minimum Viable Product). Em outras palavras, antes de investir um monte de dinheiro em uma academia, veja se você consegue colocar 30 minutos de lado, todos os dias, para fazer exercícios físicos em seu próprio quarto, ou corra 15 minutos depois do trabalho. Por quanto tempo você consegue manter essa rotina? É uma maneira rápida de “prototipar” a mudança maior que você está pensando em fazer. Quando você tem dificuldade em cumprir as metas do MVP, quais são os principais obstáculos e qual é a forma mais simples de testar uma solução mais efetiva?
Eu e o meu colega com quem divido o apartamento estávamos olhando para a nossa sala de estar e, percebendo que ninguém a estava usando, pensamos em convertê-la em um escritório. Após debater que tipo de iluminação e móveis comprar, nós notamos que deveríamos colocar uma mesa barata da Ikea lá primeiro. Dessa forma, nós poderíamos testar se nós gostaríamos de trabalhar naquele espaço, pra começo de conversa. Se nós não gostarmos, há alguma coisa que nós podemos e queremos mudar? Melhor iluminação, melhores cadeiras, um aparador?
Assim, nós evitamos investir em uma redecoração total e podemos permanecer focados nos fundamentos, ao invés de detalhes superficiais. O desafio principal para designers de produto, em minha experiência, é treinar a si mesmo para parar de fazer suposições no início. Debater hipóteses ad eternum vai geralmente levar à morte de uma ideia que poderia, de outra maneira, ser excelente. A vida funciona de maneira muito similar: comece simples e confirme que aquilo que você está fazendo está realmente funcionando, antes de você se comprometer a fazer muito mais.