Se você é campeão em postergar ações e tarefas importantes, você não está sozinho. De fato, um número absurdo de pessoas procrastina em algum grau. O problema é que algumas delas sofrem de um nível perigoso de procrastinação, que pode colocar a perder os seus objetivos de vida e carreira, além de sufocar o seu potencial. Isso sem falar em problemas de sono, estresse, sentimentos de culpa e ressentimento que as pessoas procrastinadoras acabam tendo em decorrência da sua própria procrastinação.
Quem aqui nunca sentou na frente do computador, preparado para iniciar alguma tarefa planejada e, ao invés disso, não começou, por exemplo, a navegar por redes sociais e sites de notícias, num encadeamento de sites sem nenhuma relação com a ação que fora planejada? E quando você vai no YouTube então e não para de assistir um vídeo após o outro?
Fala a verdade: é bacana, não é? Pois é, eu também acho. O problema é quando nos sabotamos e deixamos de executar ações importantes e prioritárias para aquele momento. Se nós estamos há tempos buscando iniciar alguma atividade e, por qualquer motivo, nós nos desviamos da rota e desperdiçamos o nosso tempo fazendo outras coisas que não têm nada a ver com o peixe, é porque só conseguimos enxergar a nossa satisfação no curtíssimo prazo.
Acho que é importante destacar aqui que estamos falando dos procrastinadores ocasionais, isto é, aqueles que vez ou outra acabam adiando ou postergando tarefas. Não estamos considerando os procrastinadores crônicos, pois para estes é fundamental procurar acompanhamento médico (psiquiatra) ou terapêutico. Há alguns casos, por exemplo, onde o procrastinador está acometido por um quadro de depressão, sendo portanto de extrema importância procurar um profissional capacitado. Com doença, não se brinca!
Mas se você, assim como eu, se considera um procrastinador ocasional, em maior ou menor grau, acho que talvez as palavras a seguir farão algum sentido.
Talvez você queira ver um TED Talk sobre o tema em que o Tim Urban relata as experiências cômicas e desafios bastante engraçados de um procrastinador incorrigível (Inside the mind of a master procrastinator). Não por acaso, esse é um dos TED Talks mais vistos, com quase 6,5 milhões de visualizações no canal deles no YouTube!
https://www.youtube.com/watch?v=arj7oStGLkU&t=17s
Eu acredito bastante naquela citação bíblica de que a verdade liberta. É verdade que aqui estou tirando essa passagem um pouco do contexto, mas mesmo assim, penso que ela faz bastante sentido. Isso porque quando eu ou você conhecemos o que está por trás de algo, quando nós entendemos qual é a causa de algum problema, nós temos a chance de mudar a situação.
Quando eu sei o porquê de algo estar ocorrendo, eu tenho clareza para modificar, para trabalhar na causa, na raiz do problema. Por isso, eu realmente penso que a verdade liberta. Isso é puro autoconhecimento aplicado em nossas vidas.
Assim, vamos buscar entender agora o que está por trás da nossa procrastinação e, ao fim do artigo, eu “prescreverei” alguns medicamentos para evitarmos o adiamento de tarefas importantes.
Existe um conceito chamado desconto temporal que vai nos explicar bem o que causa a nossa procrastinação. Imagine que eu lhe ofereça R$ 100 agora ou R$ 110 daqui a 30 dias. Qual dessas 2 opções você escolheria? Provavelmente R$ 100 agora, não?
E se agora eu oferecesse R$ 100 daqui a 12 meses ou R$ 110 daqui a 13 meses? Talvez os R$ 110 com um mês a mais já não ficariam tão ruins assim.
Esse é o efeito do desconto temporal. Nós preferimos as recompensas imediatas e gratificações instantâneas às realizações e conquistas de longo prazo. A nossa mente, muitas vezes, é focada no curtíssimo prazo. E essa parte da mente que gosta das gratificações momentâneas é o sistema límbico, que só liga para prazer e dores imediatas.
Segundo o pesquisador Piers Steel, a parte da mente que se contrapõe ao sistema límbico é o córtex pré-frontal. É este que nos auxilia ao controlar as vontades e os desejos do sistema límbico e que nos faz planejar no longo prazo. O grande problema, segundo o pesquisador, é que o córtex pré-frontal cansa rápido e aí o sistema límbico assume as rédeas.
Portanto, note que existe uma competição entre o curto e o longo prazo, ou melhor, entre recompensas de curto e longo prazo em nossa mente, já que esta é largamente influenciada pelo prazer iminente.
Parece que isso já vem gravado em nossas mentes. Em uma famosíssimo experimento de psicologia, Walter Mischel e seus alunos colocaram crianças de 4 anos diante de um dilema: elas podiam escolher entre uma bolacha Oreo, a qual ganhariam a qualquer momento, ou poderiam escolher esperar 15 minutos para ganhar 2 bolachas Oreo.
Cerca de metade das crianças preferiu aguardar os 15 minutos. Durante os 10 ou 15 anos seguintes, uma diferença notável foi percebida entre aquelas crianças que esperaram para ganhar 2 bolachas e aquelas que não conseguiram suportar a tentação e preferiram a gratificação imediata. As mais resistentes foram identificadas como menos propensas a usar drogas. Elas também mostraram notas significativamente mais altas em testes de inteligência, além de maior controle em tarefas cognitivas e capacidade de concentração.
Acredito ser importante aqui comentar que, segundo os professores PhD de psicologia Joseph Ferrari e Timothy Pychyl, a procrastinação não é algo com que a pessoa nasce, mas ela aprende a ser assim. Eles alegam que a procrastinação é algo normalmente associado com a criação por pais de estilo autoritário. Ter um pai duro e controlador faz com que a criança não desenvolva a habilidade de se auto regular. Ela também não internaliza as suas próprias intenções e não aprende a lidar com elas. A procrastinação pode ser uma forma de rebelião. Diante de situações como essa, as crianças procrastinadoras tendem a se voltar mais para os amigos do que para os pais quando buscam por apoio, e as amizades podem reforçar a procrastinação quando são tolerantes com as desculpas dos procrastinadores.
De alguma maneira, saber resistir ou não às gratificações imediatas tem a ver com o binômio de dor e prazer. Nós, seres humanos, vivemos constantemente esse binômio e, dependendo de como vemos a situação, sentimos ou vivenciamos dor ou prazer. Nós associamos, na verdade, seja dor ou prazer para qualquer experiência em nossas vidas. É como aquela balança com 2 pratos, onde um dos pratos fica mais pesado do que o outro. Às vezes, o que falta para nós sairmos da nossa zona de conforto, por exemplo, é viver uma dor insuportável, de maneira que não há outra saída senão fazer alguma coisa, a fim de termos, no fim das contas, prazer novamente.
O interessante é que nós podemos programar a nossa mente para sentir dor ou prazer referente a determinada situação. Um exemplo bem simples é uma comida que você gosta bastante, isto é, sente muito prazer, mas que quando você comeu em alguma ocasião e a comida não lhe caiu tão bem, pode ser que você passe a sentir repulsa por ela dali em diante, ou seja, terá dor toda vez que se deparar com aquela comida novamente.
O que seria daquela tarefa que você vem procrastinando há tempos se você associasse prazer a ela?
O que acontece é que nós precisamos nos policiar sempre que possível e observar o que está se passando em nossa mente, o que estamos sentindo etc. Trata-se de muito autoconhecimento e de saber compreender que o sucesso se encontra fora da sua zona de conforto. É saber reconhecer que o prazer imediato pode se tornar dor no futuro. Isto é, é por vezes recomendável um pouco de dor imediata para que tenhamos prazer futuro. Por que há pessoas que correm uma maratona? Por que a dor momentânea de correr uma maratona se transforma em prazer?
Mais um estudo muito interessante sobre procrastinação foi realizado com estudantes universitários durante um semestre. Basicamente, os procrastinadores apresentaram menor nível de estresse e de doenças no início do semestre quando comparados com o grupo de não procrastinadores. Porém, com o passar do semestre, o que se viu foi que o grupo de procrastinadores começou a ficar bastante estressado e a ser acometido por doenças, a tal ponto que esse estresse e doenças acabaram por superar em muito a situação vivida pelos não procrastinadores. Caso queira saber mais sobre a pesquisa, é só conferir em: https://www.amherst.edu/media/view/230062/original/procrastinating.pdf
Agora que nós já vimos muito sobre o que está por trás da procrastinação, eu gostaria de citar algumas dicas para superarmos aquele constante adiamento de tarefas importantes. São 11 dicas que você pode ver em maiores detalhes no site da Psychology Today: https://www.psychologytoday.com/blog/better-perfect/201703/11-ways-overcome-procrastination
1) Livre-se do catastrofismo
Uma das principais razões das pessoas procrastinarem é que elas fazem de determinadas tarefas um verdadeiro desafio de vida, quando na verdade, as tarefas não são tão desafiadoras assim. Ou seja, trata-se de mudar o seu mindset (mentalidade) para desafiar se aquela tarefa é tão desafiadora mesmo.
2) Foque em seu porquê
Viktor Frankl, sobrevivente do holocausto, escritor de livros, entre eles o famoso “Em Busca de Sentido”, uma vez disse: quem tem um “porquê”, enfrenta qualquer “como”.
Isso significa que se você tem um propósito, fica muito mais fácil para passar pelas dificuldades da vida e ter forças para lutar contra a procrastinação.
3) Use uma agenda
Se você tem alguma tarefa que é fundamental fazer, bloqueie em sua agenda um tempo para se debruçar sobre ela. Coloque alarmes para te lembrar de quando iniciar. Você pode considerar que deve gastar 3 horas, por exemplo, para concluir a tarefa. Configure o alarme para começar na hora marcada e depois programe o alarme para tocar em 3 horas.
4) Seja realista
Não seja tão cruel consigo mesmo e procure respeitar as suas limitações. Se você não é de acordar cedo, não considere começar a ir para a academia logo cedo de manhã. Coloque o plano de fazer exercícios em um horário que lhe seja mais realista.
Outra coisa importante é considerar um tempo realista para concluir determinada tarefa.
5) Divida as tarefas
Se uma atividade é grande o bastante para te deixar paralisado, sem saber o que fazer, considere dividi-la em partes menores. Por exemplo, se você quer escrever um livro, pense em fazer um brainstorming com os pontos que quer abordar, quais seriam os capítulos, o que você precisa pesquisar, entre outros.
6) Pare com as desculpas
“Eu preciso estar motivado”. “Eu vou esperar até que eu tenha tempo”. “Eu trabalho melhor sob pressão”. “Eu preciso que X aconteça para que eu possa começar”.
Deixe de dar essas e outras desculpas para si mesmo e simplesmente faça. Goethe disse: seja qual for o seu sonho, comece. A ousadia tem genialidade, poder e magia.
7) Tenha um parceiro
Esse parceiro pode ser o seu chefe, o seu amigo ou mesmo um coach. Compartilhe com essa pessoa qual o seu compromisso e qual o prazo em que pretende realizar a atividade. Peça a ela para acompanhar você durante a realização e te ajudar a se manter focado.
É bem provável que você se sentirá mais comprometido, pois não irá querer decepcionar a outra pessoa.
8) Otimize o seu ambiente
O seu ambiente pode ajudar ou prejudicar a sua produtividade. Preste atenção ao tempo que gasta nas redes sociais, vendo emails ou pegando o celular para olhar algo.
Durante o tempo em que se programou para realizar determinada tarefa, desligue o celular ou mesmo o coloque no silencioso. Afaste-se de qualquer dispositivo ou eletrônico que lhe tire do foco.
9) Recompense o bom comportamento
Estabeleça uma recompensa se, e somente se, você conseguir concluir a tarefa que você se planejou. Isso te ajudará a sentir prazer ainda maior com a conclusão da atividade e te deixará mais inclinado a ser mais proativo na próxima vez.
10) Perdoe-se
Não caia na tentação de ficar se culpando por coisas do passado. Se antes você procrastinava e isso te causou consequências desagradáveis, perdoe-se e siga o seu caminho.
Foque no tempo presente e construa o seu futuro. O passado tem de ser meramente um aprendizado. O seu futuro não precisa ser igual ao seu passado, desde que você aprenda as lições que a vida lhe dá.
11) Deixe de perfeccionismo
Ao invés de buscar a perfeição, busque ser melhor. O perfeccionismo faz com que você não saia do lugar, já que a exigência que você mesmo se impõe é gigantesca. Feito é melhor que perfeito.
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